domingo, 13 de dezembro de 2009

Vandana Shiva - Expoente do Ecofeminismo




Nos dias que precederam a abertura da cúpula de Copenhague, a Índia foi a grande protagonista: a recusa de aceitar qualquer quadro temporal e numérico sobre o corte das emissões, seguida pelo anúncio de um "corte voluntário" de 20-25% até 2020, fizeram com que Nova Déli passasse, em poucos dias, da mesa dos incriminados à dos heróis.


A medida surpresa, de fato, criou uma brecha no grupo dos países - principalmente em desenvolvimento - contrários a um acordo a todo custo. Mas descontentou a mais famosa cientista e ecologista indiana, Vandana Shiva, de partida para Copenhague. "É um sinal negativo. A Índia se alinhou com aqueles que querem desmantelar os acordos de Kyoto, não melhorá-los", diz.

A reportagem é de Francesca Caferri, publicada no jornal La Repubblica, 07-12-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Por que uma afirmação tão dura?

Aparentemente, tudo está em jogo sobre a possibilidade que países como a China ou a Índia assinem um acordo. Mas essa é só a aparência: a realidade é que já temos um tratado que compromete os países desenvolvidos a ficar dentro de determinados tetos de emissões. É preciso que esses compromissos sejam respeitados: não um novo tratamento em que o Sul do mundo se curva às exigências dos Estados Unidos. Quem se opõe neste momento faz bem.

Mas o fato de que a Índia tenha se comprometido a reduzir as suas emissões não é positivo?

Não neste contexto. Partimos de um acordo, o de Kyoto, que o governo norte-americano nunca assinou. E que agora está se empenhando para anular. A Índia está colaborando com a destruição do único instrumento à nossa disposição para parar as mudanças climáticas.

Portanto, para a senhora, seria melhor que não se chegasse a nenhum acordo em Copenhague?

Não sou eu que digo isso, são especialistas do calibre de James Hansen, o climatologista mais famoso do mundo. Um acordo nestas condições não serve. O que devemos fazer agora é manter os compromissos assumidos em Kyoto e trabalhar para dar passos adiante, não para trás.

Por que o acordo de Copenhague seria um passo atrás?

Porque a conta do desenvolvimento dos países ricos acabará na mesa dos pobres. Essa é a cúpula da grande indústria e dos governos que estão de acordo com ela. O que sairá dali será, no máximo, um acordo de tipo feudal. A Índia e a China já subiram a bordo desse barco. Além disso: quem produz na Índia e na China? As indústrias norte-americanas, e por isso esses países não podem ignorar os interesses dessas indústrias.

E então por que a senhora vai à cúpula?

Porque estou confiante de que na Dinamarca pode nascer um movimento novo: poucos assuntos no mundo mobilizaram a opinião pública como as mudanças climáticas. Nos próximos anos, haverá sempre mais pessoas se comprometendo em nível nacional e local: crescerão os pedidos de cidades com menos carros e de produtos agrícolas mais limpos. Isso fará a mudança, quando for levado a uma grande escala.

Não lhe parece utópico?

Não, completamente, porque não estamos falando de potenciais catástrofes, mas de coisas que já estão acontecendo. Devemos pedir respostas verdadeiras aos governos, não compromissos políticos vazios.
 

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