sábado, 12 de dezembro de 2009

Carteira de trabalho ambiental

Por Marcos Graciani




Pesquisa recente da Faculdade de Administração da USP apontou a carreira de gerente de ecorrelações como a mais promissora em uma lista de novas profissões que vão se alastrar nos próximos anos. Trata-se de um executivo encarregado de administrar os relacionamentos com os diversos públicos envolvidos em programas ambientais. No mesmo levantamento, conduzido pelo Programa de Estudos do Futuro (Profuturo) da USP, que examinou a percepção de 112 ex-alunos de MBA, os entrevistados selecionaram a atividade de engenheiro ambiental como a mais promissora entre as ocupações tradicionais.


Dois estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) fazem eco à pesquisa do Profuturo: as profissões "verdes" vão se multiplicar nos próximos anos, na mesma proporção dos crescentes esforços para reduzir o impacto da atividade humana no meio ambiente.

A previsão da OIT é de que, até 2050, sejam gerados nada menos do que 2 bilhões de empregos ligados à sustentabilidade no mundo. O número grandioso faz sentido. A necessidade de alterar procedimentos visando a garantir a vida das próximas gerações vai impactar praticamente todos os segmentos da economia. Além de produzir novas profissões, o fenômeno exigirá adaptações em carreiras já existentes. "As demandas da sustentabilidade farão com que funcionários de diferentes setores de uma empresa sejam obrigados a lidar com questões ligadas ao meio ambiente", aponta Heitor Kuser, presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social (Ibdes), organização que tem a missão de promover o desenvolvimento das profissões no país.

Um estudo inédito da OIT, a ser divulgado em dezembro, calcula que já há 1,3 milhão de empregos verdes no Brasil. Nos Estados Unidos, segundo a Organização, 10% das vagas de trabalho têm relação com a sustentabilidade. Estão nessa conta os funcionários de companhias focadas em energias renováveis, todos os trabalhadores das cadeias de reciclagem e executivos ligados à área ambiental de companhias de diversos setores. A OIT define os empregos verdes como "aqueles na agricultura, indústria, serviço e administração pública que contribuem para preservar ou recuperar a qualidade do meio ambiente" - mas a própria entidade admite que a definição é vaga.

Seja como for, a demanda por profissionais especializados na área de sustentabilidade vem crescendo no Brasil. Para o consultor paulista João Paulo Altenfelder, empresas de açúcar e álcool, produtoras de etanol e fabricantes de papel e celulose encabeçam a lista de demandantes. "Estes setores têm o desafio em lidar com seus marcos regulatórios, e por isso procuram especialistas que possam facilitar este trabalho", conta Altenfelder, diretor da Sei Consultoria.

Os entrevistados ouvidos por AMANHÃ advertem que as universidades ainda não se prepararam adequadamente para atender à demanda crescente por profissionais verdes. "Não existe um movimento organizado e sistemático por parte das faculdades para a formação de pessoas aptas a assumir essas novas funções. As escolas deveriam estar mais atentas", cobra Paulo Muçouçah, coordenador dos Programas de Trabalhos Decentes e Empregos Verdes da OIT no Brasil. Calcula-se que cerca de 300 cursos universitários já incorporem disciplinas que tratam de sustentabilidade. O Senai já tem 79 cursos voltados para a área ambiental. Essa oferta deve crescer - e muito.

Um dos atributos exigidos de muitos profissionais verdes será a formação multidisciplinar. "Um gerente de ecorrelações, por exemplo, precisará de boas noções de comunicação, direito, marketing e biologia", acredita Daniel de Carvalho, pesquisador do Profuturo. Renato Carneiro Filho, 54 anos, desempenha uma função parecida com a do gerente de ecorrelações na Veracel, da Bahia. Lá o cargo se chama consultor socioambiental. Geólogo de formação, Carneiro colheu na prática os conhecimentos necessários. "É uma profissão que exigirá das pessoas capacidade de gerir relacionamentos e pensar estratégias de comunicação. Ou seja, não valerá apenas ter conhecimentos sobre meio ambiente", conta. "Cada vez mais, a sociedade vai cobrar compromissos claros em se tratando do cuidado com o meio ambiente. Será um setor onde as oportunidades se multiplicarão", prevê.
 

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