sábado, 12 de dezembro de 2009

McDonald's: o lucro sai, o lixo fica

Por Eduardo V. Mortari Jr


De acordo com o mais recente relatório econômico divulgado pelo McDonald’s do Brasil, a empresa é líder no mercado brasileiro de fast food, tendo respondido, em 2007, por 40% do segmento de alimentação rápida fora de casa no país. No mesmo ano, a empresa vendeu no país 196 milhões de sanduíches, 264 milhões de porções de batatas fritas e 17,8 mil toneladas de carne.


Da mesma forma que impressionam os números de consumo, imaginamos a quantidade de lixo produzido, assim como o volume de emissão de gases causadores do efeito estufa. Mais impressionante ainda é a empresa, com toda esta importância no setor, não ter políticas consistentes de compensação ambiental. Na prática, a companhia apenas adota medidas pouco eficazes para diminuir o impacto ambiental que causa.

Façamos um cálculo rápido: cada refeição gera em média 32,5 gramas de resíduos sólidos, entre papel e plástico. Como em 2008 a empresa faturou 22% a mais que em 2007, podemos estimar que vendeu cerca de 15% mais lanches. A partir desses números, chegamos à quantidade de 7.312 toneladas de papel e plástico descartados. Considerando ainda que a refeição consome guardanapos, sachês de temperos, sacos de papel, embalagens e caixas de transporte, e que resulta em resíduos alimentares, podemos chegar a uma estimativa conservadora de 17,5 mil toneladas de lixo produzido pelo McDonald’s em 2008. Se todas estas embalagens descartadas fossem colocadas lado a lado, a distância percorrida pelo lixo seria igual a seis voltas ao redor do planeta. Todo este volume foi lançado no lixo comum.

Este cálculo visa analisar a real sustentabilidade das atividades da rede. E a conclusão é que o McDonald’s é o maior vilão ambiental de todo o segmento de alimentação do Brasil. Alguns exemplos ilustram esta afirmação:

A empresa informa que vai reaproveitar o óleo da fritura para produzir biodiesel. Porém, este óleo é hoje vendido para terceiros, sem a preocupação com seu destino final.

Apesar de ter um restaurante “ecológico”, que permite redução de 14% no consumo de energia e 50% no consumo de água, a empresa não assume compromisso de implantar estas melhorias nos restantes 561 restaurantes da rede.

Enquanto alega não comprar carne ou grãos vindos de áreas desmatadas da Amazônia, despeja centenas de toneladas de gordura sem tratamento nos esgotos das cidades.

Só este ano o McDonald’s do Brasil iniciou uma prática experimental de coleta seletiva, em apenas 15% dos restaurantes. Por que não adotar o procedimento em todas as unidades?

O fato é que o impacto ambiental provocado pelo McDonald’s vai muito além do lixo sólido que produz. O modelo de negócio – com uma central de distribuição única – faz com que a logística da rede seja também uma grande vilã do meio ambiente. O abastecimento dos apenas cinco restaurantes de Manaus (AM), por exemplo, demanda viagens de avião e caminhão, e um consumo maior de energia por câmaras frigoríficas para garantir a qualidade dos alimentos perecíveis. Por que toda a mercadoria tem que ser transportadas em grandes caminhões, movidos a diesel e não comprada de produtores regionais?

O objetivo desta reflexão é mostrar a urgente necessidade de adoção no McDonald’s de um programa de compensação ambiental que possa reduzir os efeitos das emissões de gases de efeito estufa de sua cadeia produtiva. Seja na forma de lixo, esgoto, consumo de energia e água ou emissão de CO² e outros gases. Tudo isto precisa ser adequadamente compensado!

Para uma empresa que, no ano de 2008, faturou R$ 3,3 bilhões no país e só em propaganda investiu cerca de R$ 130 milhões, destinar parte dos investimentos a um programa de compensação ambiental é uma obrigação. Principalmente para com a população que, ao consumir seus produtos, lhe propicia enormes lucros, muitos dos quais são exportados na forma de royalties.

Exportar lucros não é nenhum pecado e faz parte do sistema econômico globalizado que trouxe grandes benefícios ao país. O que não se pode permitir, no entanto, é que só o lucro saia enquanto todo o lixo fica.
 
Fonte: Ex-Libris Comunicação Integrada

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