terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Foco ambiental

Publicado em 06.01.2010, às 16h50 (Ricardo Braga)


Ainda não saímos do imbróglio climático, com os governos empurrando a questão para uma situação-limite, antes de assumir suas responsabilidades planetárias
Foto: Arquivo

Este é o terceiro início de ano em que escrevo na coluna Foco Ambiental. Lendo os artigos que inauguraram janeiros passados, vejo que minhas expectativas para o novo ano foram apenas medianamente atingidas.

Mas, como já reconheci em outra ocasião, os processos sociais e políticos geralmente não são rápidos como gostaríamos. Exemplo disso é que ainda não saímos do imbróglio climático, com os governos empurrando a questão para uma situação-limite, antes de assumir suas responsabilidades planetárias. Ou seja, o que poderia ter se definido há duas décadas, com maior garantia de sucesso para o conforto futuro da própria humanidade, arrasta-se a cada conferência internacional, num perigoso acúmulo de frustrações da sociedade civil mundial.

Mas, por que os governos são tão reticentes em tomar decisões objetivas de combate ao aquecimento global, se a sociedade clama por isso? É que, infelizmente, na maioria das vezes eles refletem os interesses dos que os sustentam nos bastidores, e estes são os beneficiários de curto prazo, das vantagens negociais sem enxergar o futuro.

Apesar disso, na condição de otimista enxergo avanços cumulativos. Vejam, por exemplo, as sucessivas marcas desde a Conferência de Estocolmo em 1972 até à de Copenhague em 2009. Naquele ano discutiu-se embrionariamente a relação entre desenvolvimento humano e meio ambiente, criando-se inclusive o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Após vinte anos aconteceu a Rio 92, quando foi aprovada a Convenção do Clima , e depois mais quinze eventos internacionais sobre o assunto, as chamadas Conferências das Partes da Convenção Quadro da ONU para Mudanças Climáticas (COPs), inclusive a que ensejou o Protocolo de Kyoto e a COP15, ocorrida neste dezembro na Dinamarca.

Reconheço, no entanto, que isso é muito pouco para quase quarenta anos de negociações. É portanto indispensável uma maior pressão da sociedade civil, atuando em rede e incorporando os múltiplos segmentos que se comprometam com a causa, inclusive dos empresários ambientalmente repaginados, sejam eles de antigos ou de novos negócios. É preciso também manter o esforço em gerar informações confiáveis para as tomadas de decisão, como as produzidas pelos cientistas, particularmente através do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).

Na área empresarial observo alguns avanços, mesmo que possam ser decorrentes do espírito de sobrevivência do capitalismo. A partir da década de 1980 as atitudes empresariais, embora tímidas e beirando à filantropia, já se sentiam notar, particularmente no patrocínio do que consideravam boas causas, sejam elas ambientais ou sociais. 

De meados da década seguinte para cá, as práticas se estenderam ao “chão da fábrica”, com a incorporação de procedimentos internos ao empreendimento, que levaram à otimização do uso de matéria prima e energia, e à redução de resíduos poluentes.

Mesmo assim, essas inovações ainda são limitadas, não atingindo o que podemos considerar a verdadeira sustentabilidade do desenvolvimento. São ainda atitudes defensivas de mercado, que se antecipam às previsíveis novas regras ambientais e à emergente pressão por alguns segmentos de consumidores.


Mesmo assim, essas inovações ainda são limitadas, não atingindo o que podemos considerar a verdadeira sustentabilidade do desenvolvimento.


O grande desafio a partir de 2010 é que as práticas empresariais internalizem efetivamente o custo do controle das chamadas externalidades ambientais negativas, forçando a revisão de cada etapa dos processos agrícolas, industriais e de comércio, preferencialmente por consciência planetária, se não, pelo menos para se manter na competição capitalista nesta nova etapa da economia mundial.

Quanto à sociedade civil, espero que tenha forças para empurrar seus governantes para as decisões que faltaram em Copenhague. Isso significa trabalhar articuladamente informação, sensibilização, convencimento e mobilização de parcelas cada vez maiores da própria sociedade civil, dos empresários e dos governos.

De minha parte, além da militância durante o ano, espero que no primeiro artigo de janeiro de 2011 eu possa registrar avanços mais significativos na COP 16, no México, sobretudo porque o tic tac do relógio estará ecoando mais alto, num desesperado grito, antes que não haja mais tempo.

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