29 de janeiro de 2010
Por Natalia Cuminale
"Um bebê saudável." O desejo mais frequente de pais e mães em relação aos filhos poderá gradualmente ser realizado pela ciência. E o principal responsável por isso será o mapeamento do genoma humano - concluído em 2003.
"O desenvolvimento da biogenética vai mudar completamente a questão 'ter filhos'", afirma Salmo Raski, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica. Entre as mudanças antevistas pelo médico está a popularização do aconselhamento genético. Trata-se de um estudo prévio dos genes dos candidatos a pai e mãe e da análise de eventuais problemas decorrentes da combinação deles. Em outras palavras, da formação de um embrião pela fecundação. Um exemplo: se a candidata a mãe traz uma cópia alterada e outra normal de um gene, e o pai possui as duas versões normais, o filho deste casal não terá pré-disposição a doenças genéticas.
Atualmente, o aconselhamento em geral é feito apenas por pessoas que possuem antecedente de doenças genéticas na família. "Daqui a dez anos, isso estará mais acessível. Então, a prática será realizada a despeito da predisposição familiar", prevê Raski.
O aconselhamento, porém, é apenas o primeiro passo. O segundo depende principalmente da capacidade da ciência de desvendar a base genética de algumas doenças. As perspectivas, porém, são boas. "O número de males diagnosticáveis vai aumentar entre dez e vinte vezes", diz Luiz Vicente Rizzo, imunologista e superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, de São Paulo.
O maior desafio será encontrar a base genética das doenças mais comuns, como obesidade, problemas cardíacos e câncer - que são provocadas por vários fatores. Se a luz se abrir sobre essas questões, os pais de uma criança que tiver pré-disposição a diabetes ou câncer de pulmão, por exemplo, poderão modificar os hábitos de vida desse filho ou buscar intervenções para evitar a manifestação dos males.
Cortando o mal pela raiz - Outro caminho que deverá ajudar na saúde das crianças do futuro é o diagnóstico genético pré-implantacional. Em tese, pode-se dizer que esse pretende ceifar o mal pela raiz - ao contrário do aconselhamento genético, que pode apenas alertar os pais sobre eventuais complicaçõ es futuras.
O método, que só pode ser realizado na reprodução assistida, consiste em escolher o melhor embrião para a implantação. Idealmente, o "eleito" estaria livre de doenças genéticas específicas.
"É um procedimento caro. Mas sua limitação é a insegurança, porque não é possível garantir que o bebê nascerá sem uma doença", explica Decio Brunoni, médico geneticista do berçário do Hospital e Maternidade São Luiz e coordenador do Centro de Genética Médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Outro porém: o risco de se usar o procedimento como uma espécie de "cardápio de genes" para criar uma criança perfeita ainda é desconhecido. "Quando você mexe com os genes, há a possibilidade de causar outras doenças que talvez não conheçamos", acrescenta Luiz Eduardo T. Albuquerque, diretor da clínica de reprodução assistida Fertivitro .
No início de 2009, nasceu a primeira bebê britânica cujo embrião fora selecionado para não carregar a variação do gene BRCA1 - relacionado ao câncer de mama. Apesar de animador, o resultado pode ser ilusório, já que não significa a descoberta para esse tipo de doença. "Com o câncer é diferente, pois em 90% dos casos são provocados por alterações genéticas acumuladas durante a vida do paciente. O câncer hereditário é o menos frequente", diz Brunoni.
A escolha do embrião perfeito soa como música para os ouvidos dos candidatos a pai e mãe. Mas ainda é uma melodia distante, pelos fatores já apresentados. Por isso, aposta a geneticista Mayana Zatz, colunista de VEJA.com, a reprodução seguirá inalterada por bom tempo. "O diagnóstico genético pré-implantacional é algo super sofisticado. Se isso acontecer, vai ser daqui a muito tempo. E a grande maioria das pessoas vai continuar se reproduzindo de maneira natural", afirma Mayana.
Enquanto esses procedimentos não avançam o sificiente para se tornarem populares, pesquisadores tentam facilitar o que já existe. É o caso da amniocentese, exame invasivo pelo qual é retirada uma amostra do líquido amniótico do útero da grávida para testar eventual má-formação congênita. Médicos pesquisam a possibilidade de realizar o exame, que pode diagnosticar males como síndrome de Down, apenas retirando sangue da grávida, com cerca de seis ou até oito semanas de gravidez.
fonte: VEja, 30/jan/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário